Conheça sobre a importância da prática da musculação e outras atividades físicas para pessoas com necessidades especiais
Você já parou para pensar em quantos benefícios a musculação já trouxe para você? Tenho certeza que sim, porém, muito provavelmente você nunca deve ter se dado conta do quanto a musculação poderia trazer de benefícios para grupos de pessoas os quais muitas vezes não são vistos nas academias.
Durante os últimos anos, muito se falou e ainda se fala sobre a “inclusão social”, incluindo grupos de pessoas as quais eram esquecidas e deixadas de lado, trazendo-os assim para a sociedade contemporânea da maneira mais natural possível.
Entre outras palavras, quem nunca ouviu falar na criação de acessos fáceis às pessoas que possuem alguma limitação física ou mesmo centros de aprendizado para crianças com desenvolvimentos intelectuais atípicos? E quem nunca ouviu falar na criação de direitos que garantissem que todas as pessoas, sejam elas com desenvolvimentos normais ou atípicos, tanto físicos quanto motores, tivessem as mesmas condições de acesso e/ou tratamento quando com paradas a outras pessoas sem tais limitações?
Pois bem, esses são só exemplos muito superficiais do que poderia ser chamado de inclusão e que ainda está longe de existir. Porém, esse não é o nosso foco. A discussão sobre a inclusão social, propriamente dita, levaria um prólogo muito crítico e grande.
O intuito é comentar sobre como a musculação pode auxiliar esses grupos de pessoas e mostrar como ela pode ser benéfica. Isso porque, durante esses anos de “maior atenção” a esses grupos, a prática da musculação também sofreu inúmeras evoluções e entre elas, pode-se mencionar justamente o desenvolvimento que houve em tais áreas (que apesar de pouco, existiu e existe) e a quebra de platôs, fazendo com que esse se tornasse mais um dos benefícios conseguidos com tais práticas.
Mas, você já se parou para pensar a quem, exatamente, a musculação poderia ajudar? Já parou para pensar como poderiam ser os mecanismos pelos quais isso ocorreria?
Trouxe neste artigo algumas dessas perspectivas, para que você também possa auxiliar e motivar pessoas com limitações a seguirem tais práticas. E caso você possui alguma limitação física, que você possa sentir-se capaz de obter estes mesmos benefícios
A musculação e o desenvolvimento motor atípico
Para quem possui desenvolvimentos sem limitações, certamente movimentar-se é algo tão natural, que o indivíduo nem se dá conta da importância que ele exerce em sua vida. E isso, só é percebido quando você sente algum tipo de limitação de movimento, por exemplo, quando quebra um membro e tem de engessá-lo ou ainda, quando em uma brincadeira, amarram uma parte de seu corpo, excluindo o movimento dela…
Muitas pessoas nascem com limitações em seus movimentos ou logo nos primeiros meses de vida começam a demonstrar essas limitações ou desenvolvimentos incomuns, e muitos são os motivos que levam a isso, mas normalmente, quando a pessoa nasce com tal característica isso deve-se ao caráter genético.
É óbvio que, quanto mais longe estiver da prática física, mais longe a pessoa estará da possibilidade de se envolver com o mundo, afinal, ela depende do movimento e depende da função física para a sua sobrevivência básica.
Sabemos que a musculação pode aumentar estímulos nervosos, bem como, promover adaptações não somente motoras, mas neuromotoras, favorecendo o movimento todo.
Isso quer dizer que, diretamente ela pode ser usada para auxiliar o indivíduo no controle de seus movimentos que possuem algum desenvolvimento incomum e favorecer que esses movimentos não sejam alheios, e que possam ser usados ao favor e aos objetivos do indivíduo.
Além isso, a coordenação motora, a relação com o meio externo entre outros fatores tendem a ser melhores. O próprio esforço exigido pelas atividades físicas resistidas com peso pode ser tido como algo benéfico para evitar ou prevenir a sarcopenia (perda da massa muscular e força), muito frequente em indivíduos com desenvolvimentos motores atípicos uma vez que eles tendem a ter menores índices de atividades físicas, o que contribui para a perda muscular.
Sem sombra de dúvidas, pessoas que nascem com problemas motores podem ter benefícios com a prática da musculação. Mas vamos também citar pessoas que ao decorrer da vida passam a desenvolver algum tipo de deficiência física ou motora, como em casos de amputações, de perdas de movimentos por alguma doença degenerativa entre outros…
Esses indivíduos não somente têm os mesmos benefícios dos citados no primeiro caso, mas ainda pode-se considerar que os exercícios físicos são fundamentais nesse caso. Isso porque, o reaprendizado de como utilizar o corpo e de como “agir” frente as novas imposições corpóreas será fundamental.
É comum que pessoas que tenham, por exemplo, um membro amputado, deixem de praticar atividades físicas, quando, o correto seria justamente o contrário.
As atividades físicas possibilitarão uma reintegração do indivíduo para consigo mesmo e auxiliarão não somente em aspectos físicos, mas psicológicos também, dando confiança e maior autoestima, além de motivação para superação de suas dificuldades.
A musculação não contempla apenas pessoas as quais possuem problemas físicos motores, mas ainda problemas outros tais quais os relacionados com a visão, audição ou mesmo com a fala. A todos esses ela tende a trazer várias melhorias também, como o equilíbrio e propriocepção aos indivíduos com deficiência auditiva e/ou visual, a integração com pessoas que tenham deficiências com a fala etc.
De uma maneira geral, quaisquer desenvolvimentos motores atípicos ou mesmo deficiências físicas pré-existentes ou pós-existentes ao nascimento podem ser atenuados com a prática da musculação, que é um exercício seguro, sem impacto e com altíssima eficiência em todos esses pontos e outros que passaríamos horas mencionando.
A musculação frente ao desenvolvimento intelectual atípico
Os desenvolvimentos intelectuais atípicos também podem aparecer ao longo da vida, mas em sua grande parte, eles são trazidos desde o nascimento. Entre os quadros mais comuns está, por exemplo, a Síndrome de Down, o autismo, a paralisia cerebral etc.
Em primeiro lugar, o principal modo pelo qual a musculação poderá auxiliar, é na integração com outras pessoas. Normalmente, essas pessoas são ou acabam se excluindo da sociedade e da socialização.
Está claro, um dos aspectos os quais mais devem ser vistos a estes indivíduos com as práticas de quaisquer atividades físicas, é a forma pela qual a atividade física poderá trazê-los a uma socialização relativamente normal, o que por aspectos sociais já é muito difícil.
Em segundo lugar, o restabelecimento das concepções motoras é fundamental a esses grupos. Isso porque, além da tendência natural para a menor prática de atividades físicas, elas costumam ter alterações hormonais as quais resultam em consequências tais quais a perda de massa muscular e a sarcopenia.
Isso faz com que indiretamente, os níveis de lipídios sanguíneos e sensibilidade à insulina sejam alterados, entre outras modificações metabólicas prejudiciais. Sendo assim, a prática de atividades físicas traz o movimento a essas pessoas novamente e de maneira direta também tem estímulos sob as partes hormonais, que são essenciais ao corpo.
Por fim, é importante salientar a própria autoestima bem como a capacidade de sentir-se possível realizar as coisas por si só (autossuficiência).
A prática da musculação está mesmo apta para esses grupos de pessoas? As chances de um bom desenvolvimento são as mesmas de uma pessoa sem limitações?
Ao colocarmos na mesa todas as possibilidades benéficas da musculação, não nos restam dúvidas que ela é uma excelente opção para os grupos mencionados. Entretanto, dessa mesma forma temos que colocar em mesa as possibilidades reais existentes na nossa sociedade ou mesmo em sociedades com maior desenvolvimento social.
Seria hipocrisia dizer que não é uma utopia pensar que existam meios de fácil acesso a essas pessoas ou tampouco preparo suficiente para o trabalho com esses indivíduos. Além de serem muito poucas as fontes hoje de estudos específicos desses casos frente a prática da musculação, as próprias barreiras sociais ainda existem e muitas vezes, cabe ao profissional ter de adaptar, como possível o meio ambiente para acolher essas pessoas.
Garantidamente, o que quero dizer é que de uma maneira geral a sociedade ainda não lida adequadamente com pessoas as quais possuem algum tipo de limitação. Você já parou para pensar como é difícil sair de casa em um dia frio ou chuvoso, sem vontade de treinar, justamente para treinar? Agora, imagine essa mesma situação para um indivíduo que, além desses mesmos problemas ainda possuem restrições em sua locomoção.
Tudo se torna ainda mais difícil. Ao chegar na academia, você possui todo o suporte de maquinários e pode ir adaptando o que for necessário com pouco esforço. Mas e essas pessoas? Será que as chances que elas têm são as mesmas? Será que elas podem usar todos os tipos de maquinários ou isso irá depender de sua limitação? Será que realmente seria possível ter profissionais devidamente aptos para lidar com elas ou que fossem capazes de fazê-las entrar em um meio, sem quaisquer exclusões?
Os paradigmas da inclusão realmente estão aí e eles existem. Entretanto, a sociedade NÃO trata com igualdade essas pessoas, muito pelo contrário: muitas vezes, quanto mais igual tenta ser esse tratamento, mais desigual ele se torna.
Sendo assim, de maneira ainda mais triste, é necessário lembrar todo tipo de preconceito existente. Preconceito esse que dura há gerações e dificilmente deixará de existir.
Tudo que foge ao “normal”, não é visto de maneira comum pela sociedade e essa é que é a verdade. Apesar de errônea, a concepção do que difere muitas vezes é distorcida.
Antes de pensarmos somente nos benefícios e métodos adequados referentes à prática da musculação para grupos limitados, temos de pensar como esses métodos e possibilidades podem chegar a eles de maneira eficiente, do contrário, não passarão de teorias no papel.
As reflexões que poderíamos fazer a cerca disso poderiam formar um livro, portanto, é essencial que você possa começar a pensar nisso e, acima de tudo, começar a modificar suas próprias atitudes, principalmente se você é um profissional diretamente envolvido com essas mudanças, como um professor de Educação Física, por exemplo.
De uma maneira geral, podemos definir as diferentes limitações (chamadas erroneamente de deficiências) sendo elas físicas ou intelectuais, as quais podem ser de origem genética (que nascem com os indivíduos em questão) ou adquiridas com o decorrer da vida por alguma eventualidade.
Essas limitações, certamente trazem prejuízos para a saúde e para o meio social. Entretanto, a musculação pode ser um importante coadjuvante na vida desses indivíduos, incluindo-os na sociedade de maneira mais íntegra e também contribuindo beneficamente para a sua saúde.
Todavia, para que essas teorias passem do papel para a prática, faz-se necessário a modificações de itens já muitas vezes consolidados na sociedade e que acabam por resultar na dificuldade da ocorrência desses processos ou mesmo resultar na tremenda desigualdade vista hoje.
Portanto, devemos trazer em mente não apenas reflexões a respeito das melhorias da musculação, mas das formas pelas quais elas serão aplicadas. Somente assim teremos desenvolvimentos cada vez melhores e poderemos realmente transformar a musculação em algo universal.
Pensem nisso! Reflitam!
Bons treinos!