A internet deu voz ao bobo da Corte.

Essa foi a paráfrase da citação do renomado escritor Umberto Eco, quando disse que “A mídia social dá a legiões de idiotas o direito de falar quando antes só falavam em um bar depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a comunidade. Mas agora eles têm o mesmo direito de falar que um ganhador do Prêmio Nobel. É a invasão dos idiotas.”

A frase soa elitista e até ofensiva, mas acerta o alvo em muitos casos. Ela mostra o descontentamento do intelectual escritor com a viabilidade tecnológica em dar voz ao cidadão comum.

Nada errado com ambos. Viabilizar voz a todos os cidadãos ou alguém se descontentar com isso. Todos têm o direito de se manifestar e todos têm o direito de concordar ou não com a mensagem.

Fato é que a mídia social se destaca pela desinformação. Como cada um escreve o que quer, o valor do conteúdo deve ser visto com o correto contexto, o que muitas vezes não ocorre.

Lembra-se das correntes via e-mail, que sua avó lhe enviava a oração de Santa Genoveva para ser redirecionada para dez pessoas ou senão você sofreria um grave acidente e nunca mais seria feliz?

Agora piorou, pois a postagem é pública. Qualquer um pode ver, copiar, redirecionar e por aí vai. Você era o túmulo da corrente da sua vó. Na mídia social, o alcance é bem mais abrangente.

Veja exemplos de idiotice de desafios feitos na mídia social: engolir tablete de sabão de lavar roupa, colocar fogo na tomada inserindo moeda e carregador de celular no plug, despejar líquido inflamável no próprio corpo e colocar fogo, colocar sal e gelo e contar quanto tempo consegue suportar a queimadura, cortar o oxigênio até desmaiar etc.

Mas as observações propedêuticas servem apenas de abertura para a matéria imigratória, alvo de tanta desinformação.

Com a possibilidade de cada um dizer o que quiser e com pequenas chances de ser responsabilizado por isso, as patacoadas surgem diariamente, estimuladas pela efemeridade das postagens. Se a postagem viver uma semana, já valeu. A maioria morre em 24 horas, mas o estrago ainda assim é feito. E apenas um estrago pode significar o fim da linha para uma família inteira.

Parece incrível a inaptidão do ser humano em querer se manifestar sem antes se informar. Ou passar para frente o que viu, apenas porque lhe beneficia, mesmo que a informação seja errada. Ou ainda retrucar postagens de esclarecimento só para contraditar, sem sequer saber o que está falando, mas se fiando no único fato de que “viu” algo diferente no perfil de outro usuário.

Ainda demorará muito tempo para superarmos esta iniquidade cognoscitiva. Afinal, é mais fácil passar para frente como se a repetição assídua de uma mentira, fizesse dela uma verdade. Não faz.

A mídia social se tornou uma obra de ficção. Com o passar do tempo ela deixará de ser crível, justamente por veicular muita informação errada. Até que isso aconteça, seguem algumas dicas.

Identifique o comunicador. Ele é especialista no assunto ou especialista em mídia social? Por exemplo, ator da Globo falando de imigração não é especialista no assunto. Também não é especialista para falar de leis quem não é advogado.

Identifique a mensagem. O conteúdo é bom para ser verdade? Desconfie. Ninguém descobriu a América hoje, nem sozinho. Aí tem coisa.

Identifique o resultado da equação. Quem sai ganhando? O veiculador da mensagem ou você que a lê? Tome cuidado, pois às vezes é feito para parecer que você está ganhando, quando, na verdade, quem está é o outro lado.

A mídia social veicula muita informação e cabe a cada receptor identificar qual o uso que se faz dela. Diferenciar quem informa de quem vende é imperativo.

Lembrando-se sempre que informação não é conhecimento. E conhecimento não é sabedoria. Na lição de T.S. Eliot, (The Rock, 1934): “Onde está a vida que perdemos vivendo? Onde está a sabedoria que perdemos em conhecimento? Onde está o conhecimento que perdemos na informação?”

Voltando às correntes, se você marcar 30 amigos neste post, você provavelmente não receberá um green card por habilidades. Mas talvez você ajude alguém a se precaver da desinformação pela enxurrada de (má) informação.

Cabe a cada um o juízo sobre o que fazer com a informação. Se educar ou emburrar de vez. Neste caso, nem Santa Genoveva salvará.

A informação contida neste artigo constitui mera informação legal genérica e não deve ser entendida como aconselhamento legal para situações fáticas concretas e específicas. Se você precisa de aconselhamento legal, consulte sempre um advogado que seja licenciado e membro da organização de classe (The Bar) do Estado onde você reside.