Uma mentira contada mil vezes torna-se uma verdade, já diria o ditado. É o caso do sistema de saúde dos Estados Unidos da América.

Grande parte do público brasileiro não sabe, mas, operam, nos EUA, seis sistemas de saúde diferentes, sendo três exclusivamente públicos; dois, mistos, e um, exclusivamente privado.

Os sistemas públicos são, em ordem decrescente de quantidade de pessoas atendidas, o Medicaid, o Medicare e o Veterans Affairs (VA). À exceção deste, que volta sua atuação para militares aposentados — os veterans –, os outros dois foram criados na década de 1960 a fim de amparar os idosos (Medicare) e a população de baixa renda (Medicaid), após o fracasso dos planos para a implementação de um “SUS norte-americano”. Juntos, os três atendem quase 100 milhões de habitantes, cerca de um a cada três americanos, e, se adicionarmos as clínicas populares e de caridade — que funcionam com repasses públicos, além de algumas doações — e os atendimentos emergenciais subsidiados, chegaremos a uma estimativa de cobertura próxima a 120 milhões de pessoas.

Tanto o Medicare quanto o Medicaid apresentam todas as características do sistema de pagador único canadense: os serviços são fornecidos por empresas privadas, mas os custos são pagos pelo governo; uma imensa regulamentação dita o que pode ser ofertado e os preços dos planos de saúde e dos tratamentos médicos são controlados diretamente pelo CMS — Centers for Medicare and Medicaid Services. Financiados por impostos, seus beneficiários quase sempre usufruem de cuidados médicos sem precisar arcar financeiramente nem mesmo parte do tratamento. Em alguns casos, entretanto, há a necessidade de pagamento de apólices de seguro de saúde, algo mais comum no Medicare do que no Medicaid.

Os programas do Medicare e do Medicaid contam com diversos portfólios cobrindo desde imunizações para gripe até procedimentos cirúrgicos complexos, tratamentos de doenças como câncer e ataques cardíacos. Ambos os programas foram expandidos significativamente nos últimos vinte anos, tanto por presidentes democratas (Bill Clinton e Barack Obama), quanto por presidentes republicanos (George W. Bush), e correspondem a gastos per capita do governo norte-americano maiores do que de praticamente todos os outros países desenvolvidos, atrás apenas de Noruega, Holanda e Luxemburgo. Quando consideramos, em vez de toda população, apenas os beneficiários dos serviços para computar o gasto per capita, percebemos que os valores são ainda maiores, principalmente no caso do Medicare, cujo gasto médio por beneficiário supera os US$ 10.000,00 — mais de duas vezes o investimento realizado pela Noruega.